AS ACADEMIAS LITERÁRIAS E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

A IMPORTÂNCIA DAS ACADEMIAS LITERÁRIAS NA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Estamos nos aproximando da data magna de nossa pátria, o 7 de Setembro, dia em que o príncipe D. Pedro, em 1822, às margens do Ypiranga deu o Grito de Independência, livrando o Brasil do jugo da coroa portuguesa.

Diz a história do Grande Oriente do Brasil, citada pelo Barão do Rio Branco, que no dia 20 de agosto em uma reunião da Loja Comércio e Artes, incentivados por Gonçalves Ledo, os irmãos ali presentes, deram o seu grito de independência do Brasil. Porém, anos depois descobriu-se que em verdade tal fato ocorreu no dia 9 de setembro, de acordo com o calendário à época vigente.

Os fatos, atos e personagens que atuaram no processo de independência do Brasil é de todos conhecidos, particularmente pelos maçons brasileiros. Isto porque o Grande Oriente do Brasil, primeira potência maçônica a se instalar no Brasil, em 17 de junho de 1822, foi criado com o objetivo de lutar pela independência, que já vinha sendo preparada por Obreiros da Arte Real, desde a Inconfidência Mineira.

Porém, entre as inúmeras instituições que participaram do processo de libertação do Brasil do jugo de Portugal, destaque se deve às várias Academias que surgiram na época, que foram criadas, também, para este fim.

Neste sentido vamos nos valer do artigo de autoria do dr. Adelto Gonçalves, doutor em literatura portuguesa pela Universidade de São Paulo, intitulado "Esquecidos e Renascidos no Brasil Colonial", que trata da criação , na Bahia, no século XVIII, das Academia Brasílica dos Esquecidos e Academia Brasílica dos Renascidos.

Com base no texto do livro de Íris Kantor - Esquecidos e Renascidos Historiografia Acadêmica Luso-Americana (1724-1759), São Paulo, Editora Hucitec/Centro de Estudos Baianos da Universidade da Bahia, 2004, Adelto Gonçalves ressalta o seguinte:

"Antes mesmo de o Brasil se tornar nação independente, eruditos reuniram-se na cidade de Salvador, na Bahia, para fundar a Academia Brasílica dos Esquecidos, em 1724, e a Academia Brasílica dos Renascidos. em 1759, com o objetivo de escrever a história da América portuguesa. A criação dessas Academias permitiu que a atividade historiográfica (historiografia - a arte de escrever história) ganhasse foros de ação coletiva, já que, até então, ficara restrita as iniciativas isoladas de colonos, missionários, viajantes, militares e administradores".

Destacando ainda :

"Na primeira parte, a autora acompanha o processo de especialização do ofício de historiador no interior das corporações religiosas e acadêmicas na passagem do século XVII para o XVIII, ressaltando algumas especificidades do caso português em relação ao campo historiográfico europeu no contexto de mudanças no campo do Direito Civil e eclesiástico pátrio, encetadas pela Paz de Vestfália". (1648)

Registre-se que o Tratado de Vestfália, ou Tratado dos Pirineus, de 1659, que deu fim à guerra entre França e Espanha, inaugurou o moderno sistema internacional, ao acatar noções e princípios de soberania estatal e o de Estado, surgindo daí o Direito Internacional.

Por sua vez, Portugal, ao valer-se dessas novas conceituações de soberania e Estado, encetou a criação das Academias com a finalidade de obter os registros históricos e geográficos que garantissem a posse de suas colonas ultramarinas.

Assim, surgiu em 1720 a Academia Real da História Portuguesa, assumindo feição geopolítica que teve por objetivo municiar o país de documentação comprobatória de seus direitos, investindo na produção da memória histórica dos domínos ultramarinos portugueses.

A coroa portuguesa incentivou também a criação das duas Academias acima mencionadas, com finalidades de documentar seus direitos territoriais e comerciais ultramarinos, ante a pressão de diversas potências européias.

Contudo, estas duas Academias se tornaram "centros formadores de opinião" opositores ao regime colonial e, em consequência, propagadores dos princípios iluministas europeus para a liberdade e independência, constituindo um campo fértil para a atividades dos maçons, na sua luta pela libertação do Brasil, já que, muitos dos seus membros acadêmicos eram maçons.

Academia Brasílica dos Esquecidos

Assim, a primeira organização literária criada no Brasil, foi a Academia Brasílica dos Esquecidos, fundada em Salvador, na Bahia, pelo vice-rei Vasco Fernandes Cézar de Menezes, conde de Sabugosa. Para tanto, ele reuniu primeiramente sete ilustres membros da sociedade baiana, que em 24 de abril de 1724, em reunião no Palácio, criaram a referida Academia, que teve seus Outeiros suspensos, no dia 4 de fevereiro de 1725.

Outeiro era a denominação dada a reunião desta nova Academia, conforme informações do Secretário, acadêmico José da Cunha Cardoso, que assim discorreu:

"No primeiro outeiro, quando foi redigido o estatuto, ficou homologado que os outeiros seriam divididos em duas partes: primeiramente, uma sessão puramente literária, quando após a Oração Presidencial seriam compostas obras poéticas sobre dois temas previamente escolhidos, sendo um tema lírico e outro heróico. As obras compostas seriam recitadas e, se necessário, corrigidas por José da Cunha Cardoso, secretário da Academia. A seguir, seriam recitadas as dissertações históricas. Em cada outeiro, os lentes de história se revezariam e, a cada sessão, dois lentes recitariam as dissertações compostas"

Seguindo a organização da Real Academia Portuguesa de História, os acadêmicos brasílicos do século XVIII eram ligados ao Estado, à administração pública ou ligados à Igreja, juízes, ouvidores, padres seculares, jesuitas, capuchinhos, capitães, coronéis, e vigários.

Outras Academias foram criadas, como por exemplo: Academia dos Felizes, em 1736; Academia Literária dos Selectos, em 1752; Academia dos Renascidos, em 1759; Academia Científica, em 1772; Sociedade Literária do Rio de Janeiro, em 1779; Arcádia Ultramarina, 1791.

Segundo alguns historiadores, estas academias ditas literárias foram criadas em sua maioria para funcionarem como se fossem lojas maçônicas, com o objetivo de incentivarem iniciativas com vistas à independência do Brasil.

Donde se conclue, que as atuais Academias ditas maçônicas tiveram origem no século XVIII, com o nascimento das diversas academias literárias, nas quais a maioria dos seus acadêmicos eram maçons, que atuavam com o objetivo primordial de libertar o Brasil.

E, na atualidade, as nossas Academias Maçônicas, herdeiras do ideal de liberdade e de Independência de suas congêneres antepassadas, têm, também, a importante missão de lutar - não como fez D. Pedro, em 7 de setembro de 1822 - pelo aprimoramento e enriquecimento da Cultura Maçônica em nosso País, libertando-nos do analfabetismo cultural que grassa em grande parte de nossas Oficinas, dedicadas a Arte Real e a preparação de nossos futuros líderes.

Brasília, DF, 28 de agosto de 2024


HELIO P. LEITE
um eterno buscador
Presidente da ANM

Cadeira 33

Patrono: Joaquim Gonçalves Ledo

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